A adaptabilidade é uma habilidade natural do ser humano. Porém, nosso padrão de adaptação a qualquer acontecimento ou estímulo é mudar o mínimo necessário para garantir nossa sobrevivência. É isso que nosso cérebro emocional faz: responde o mais rápido possível para evitar danos maiores. No entanto, quando te proponho desenvolver sua adaptabilidade quero dizer aplicar ferramentas que, de maneira consciente, vão contribuir para fazer florescer seu máximo potencial humano.
Por exemplo: você recebe uma notícia ruim de um fornecedor ou liderado e, "boom", já começa a construir uma mentalidade que vai alimentar o estresse no trabalho. As emoções são assim: elas brotam desencadeadas por alguns gatilhos e seu papel é nos permitir enfrentar, da forma mais rápida e eficiente possível, o que nosso cérebro reconheceu como uma ameaça à nossa integridade.
Aprimore sua adaptabilidade para ter uma vida com significado
O papel das emoções é promover sua sobrevivência. O cérebro emocional cumpre bem esta função. No entanto, como menciona Yuval Noah Harari , em seu livro 21 lições para o Século 21: “a maioria das decisões humanas é baseada em reações emocionais e atalhos heurísticos e não em análise racional e [...], enquanto nossas emoções e nossa heurística (dedução) talvez fossem adequadas para lidar com a vida na Idade da Pedra, são lamentavelmente inadequadas na Idade do Silício.”*
O que Harari quer dizer é que esta forma de resposta automática, condicionada e impulsiva já não serve às necessidades do homem contemporâneo tanto quanto servia aos humanos primatas, quando a violência parecia a saída mais comum, senão a única, para resolver qualquer conflito.
Para de reprimir e comece a canalizar
Estamos num momento-chave da história, em que compreendemos que podemos reduzir os confrontos, fazer acordos, negociar interesses, e evitar que lutas violentas se deflagrem. Esta ampliação da percepção humana popularizou a importância de aprender a lidar com as emoções, aprimorando nosso cérebro cognitivo e usando sua habilidade de análise e decisão voluntária para reprogramar as reações automáticas.
Durante muitos anos, a solução mais usada ao lidar com as emoções no trabalho era basicamente reprimi-las, ignorando sua existência e, com o tempo, transformando-as em doenças crônicas ou agudas, físicas ou mentais. Ou, dependendo do temperamento de quem as sentia, produzindo uma explosão e conflitos ainda mais violentos e degradantes para todos os envolvidos. Eu disse a solução ERA reprimir? Bom, em muitos cenários, ainda é.
E, apesar de se falar muito da relevância da inteligência emocional no ambiente de trabalho, será que você e seus liderados conhecem ferramentas práticas para reprogramar sua maneira de reagir?
And although there is a lot of talk about the relevance of inteligência emocional in the work environment, do you and your team members know the practical tools to reprogram the way you react with emotions? To take a step towards reframing our approach to managing emotions starts when we recognize that the solution to ending the emotional roller coaster is to stop repressing and start channeling emotions.
Como aprimorar sua adaptabilidade tornando a raiva combustível para a ação?
A raiva, assim como o medo, a alegria, a tristeza e a repulsa, são emoções básicas, fundamentais para sobrevivermos. No entanto, depois de milhares de anos de evolução do nosso sistema nervoso central, habilidades e tecnologia, queremos prosperar, viver melhor, e não apenas sobreviver.
Com as contribuições da neurociência, estamos cada vez mais cientes de que o comportamento humano está diretamente ligado à química do nosso cérebro e corpo. E, portanto, a raiva, como qualquer emoção, nada mais é do que um padrão da nossa química corporal, da liberação de hormônios/neurotransmissores, entre outras substâncias que nos conduzem a um estado de alerta e reatividade (sistema simpático), ou de descontração e receptividade (sistema parassimpático).
Ao reconhecer como funcionamos e, ao entender que nosso cérebro cognitivo é, em geral, muito pouco explorado e treinado, podemos aprender ferramentas para usar, a nosso favor, o padrão químico que as emoções desencadeiam, e desenvolver nossa habilidade de reprogramar nosso comportamento.
Consciência emocional e adaptabilidade para gerir emoções
Canalizar a raiva nada mais é do que usar as substâncias que ela produziu no corpo para trabalhar, mover-se, fazer atividades físicas ou esportes, expressar-se artisticamente, escrever, ou criar qualquer coisa que transforme os antigos hábitos de lutar ou correr em algo produtivo.
Se a raiva é deflagrada para mover seu corpo - para luta ou fuga - é preciso usar esta energia de maneira consciente, caso contrário, as duas tendências mais comuns são: explodir e estragar relacionamentos, ou implodir, produzindo dor e debilidade ao corpo e mente.
Quando não for possível transformar esta energia emocional em física ou intelectual, afastar-se fisicamente da situação de um potencial conflito pode ser excelente solução. Se possível, sendo honesto quanto à sua necessidade de ter um tempo para raciocinar ou esfriar a cabeça antes de responder, ou mesmo dando uma desculpa para sair do recinto onde o confronto parece iminente.
Como usar sua respiração para lidar com o estresse e aumentar sua adaptabilidade?
Se, quando ficamos com medo ou raiva, nos sentimos dispostos a lutar ou fugir, produzindo aceleração respiratória e cardíaca e enviando mais circulação às extremidades; para mudar esta resposta, precisamos induzir o oposto, mudando a respiração voluntariamente e, por consequência, nossas ações.
Segundo um estudo iniciado em 1991 pelo professor de neurologia da UCLA, Jack Feldman, e continuado por Mark Krasnow e Kevin Yackle: "... a respiração afeta a mente e seus estados emocionais." Eles encontraram um circuito neural que nos deixa ansiosos quando respiramos rapidamente e estáveis quando respiramos devagar.
Este e outros estudos demonstraram, portanto, que é possível desacelerar a frequência cardíaca e ativar o sistema nervoso autônomo parassimpático (ou seja, a descontração e o bem-estar), quando coordenamos a respiração, e a tornamos mais profunda, lenta e pausada.
Quando conquistamos este estado de descontração corporal, serenidade e bem-estar, bloqueamos os processos orgânicos que nos preparam para a luta ou fuga e evitamos os pensamentos automáticos condicionados para um desses fins (lutar ou fugir). Com redução no volume de pensamentos, aumenta nossa clareza mental e podemos usar nosso córtex pré-frontal ou o cérebro cognitivo para tomar decisões mais lúcidas e produtivas.
No entanto, aprender a canalizar a raiva, ou respirar de maneira mais profunda e pausada, não constituem uma solução definitiva para lidar com a raiva. Para reduzir o percentual do dia que você entra no ciclo da raiva, é preciso reprogramar seu comportamento de maneira consistente. E para isso, sugerimos o passo a passo a seguir.
O passo a passo para lidar com a emoção no trabalho
Abaixo, compartilho uma das ferramentas que ensinamos na DeRose Platform de como lidar com a raiva, especialmente no cenário atual de crescente incerteza, alta pressão, mudanças rápidas e grande complexidade:
- Identifique um momento que seja um gatilho para sentir raiva.
- Quais outros sentimentos estão associados a esta emoção?
- Use a respiração para estabilizar as emoções, fazendo inspirações e expirações profundas.
- Você acha que alguma área de sua vida foi impactada ou ameaçada?
- Existe algum medo aparente por trás? Qual?
- Que tipo de sentimento o ajudará a prosperar nessa situação complexa e incerta?
- Quais são suas habilidades ou competências que o ajudariam a expressar o que deseja sentir?
- Como você usará esses pontos fortes selecionados para solucionar ou contornar este desafio?
Agora que você aprendeu o passo a passo para lidar com emoções improdutivas, exercite sempre que tiver oportunidade. E que tal compartilhar este passo a passo com a sua equipe e ajudar seus liderados a gerenciar a raiva e prosperar, ao invés de apenas sobreviver às adversidades do dia a dia?